Para ajudar nos bons devaneios sobre essa temática, hoje falaremos, brevemente e num recorte indígena, de UTOPIA, especificamente de "Yuý maraeý" – "A terra sem males". A grafia dessa utopia varia: Yvy maranbei, Yuy marã e'ý, Yby marã ey'ma Ela é própria dos tupi-guaranis, mas precisamente dos Apapocuva e dos Tembē. Trata-se da crença e busca da terra onde não há fome, guerra nem morte. Um lugar aonde se encaminha o bem-viver por excelência. Isso ajuda a desconstruir a errônea ideia de que os povos indígenas tendem a uma "estagnação" de suas civilizações. Na verdade, suas culturas e mitos instigam a solução de males cotidianos e sociais, porém para além (e aquém) da visão pragmática da cultura "ocidental". Embora originalmente o mito de Yuý maraeý fosse algo atrelado a uma prática de determinação espiritual, os povos indígenas a entendiam e buscavam no mundo palpável. A própria Urihi (terra-floresta) guarda a Yuý maraeý, para encontrá-la era precisa se unir mais e melhor à ela. Por isso que quando se fala de #amazofuturismo de recorte indígena é muito mais comum pensar numa projeção futurista utópica do que distópica. Lembrando que utopia aqui não é o irrealizável, mas o ainda ocultado. Utopia do/no presente, que contesta bastante nossa visão de mundo. Diferente do pensamento científico de agora, que procura diminuir as incertezas e pormenorizar/controlar todas as possibilidades, os saberes indígenas e sua inspiração utópica aceitam e gestam o potencial de um saber que nos supera e foge de nossas mãos. Pois, paradoxalmente, somos muito mais responsável pelo futuro (que é o presente) quando somos menos capazes de determinar sua configuração. Se nenhum determinismo apoio nosso futuro, então este repousa sobre nossos valores e nossas capacidades do agora, MUITO CLARAMENTE. A utopia de Yuý maraeý fazia os indígenas migrarem, esforçarem-se por cultivar e alcançar a terra sem males. Eis a utopia de uma civilização que gera um sentimento ético de responsabilidade em relação a manutenção da ecoesfera. Nem parece #amazofuturismo, o apelo/sonho é atual!
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March 2024
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